Do peso ao propósito

Vivemos em uma época marcada por uma enorme contradição: nunca tivemos tantas academias, tantos meios para se exercitar, tanta informação sobre saúde… e, ao mesmo tempo, nunca tivemos tantas pessoas com sobrepeso e obesidade. E junto com isso, nunca existiram tantas promessas de soluções rápidas, tantas drogas e substâncias voltadas para o emagrecimento. Parece que hoje o desejo mais comum não é  emagrecer, mas sim ser emagrecido — como se fosse possível terceirizar esse processo para uma pílula ou uma injeção.

É inegável que essas medicações têm seu lugar, especialmente em casos com indicação clínica. E sim, os números mostram perda de peso. Mas o que muitas vezes não se fala — ou se esconde nas entrelinhas — é que a grande maioria das pessoas que usam essas substâncias sem mudar seus hábitos de vida inevitavelmente acabam recuperando o peso perdido. Não se fala o suficiente sobre o quanto de massa muscular é perdida nesse processo. Nem sobre o retorno da fome intensa quando o uso é interrompido. Muito menos sobre o fato de que, sem mudança de comportamento, sem uma nova forma de se relacionar com o corpo, com a comida e com o movimento, os resultados simplesmente não se sustentam.

O que mais me preocupa como educador físico não é a existência da medicação em si, mas sim o caminho que as pessoas estão escolhendo trilhar. Um caminho que promete facilidade, mas que afasta ainda mais da verdadeira transformação. A saúde não está só no número da balança. Está na qualidade do sono, na disposição ao acordar, na relação com a comida, na constância do movimento, na autoestima, na leveza de viver com mais liberdade e menos culpa.

Quero que cada pessoa entenda que o excesso de peso é um sinal. Um sinal de que algo está em desequilíbrio — e esse algo raramente é resolvido apenas com uma injeção. A verdadeira jornada de emagrecimento passa por entender o que levou ao ganho de peso, quais dores, comportamentos e padrões precisam ser reconstruídos. E isso exige paciência, acolhimento, apoio e uma nova forma de olhar para si mesmo.

Se você está buscando emagrecer, eu te convido a fazer isso de forma profunda, responsável e sustentável. Não porque você “precisa caber” em um padrão, mas porque merece se sentir bem, com mais saúde e qualidade de vida. E esse caminho começa com a decisão de não fugir da realidade, mas sim de enfrentá-la com coragem — e principalmente, com muito mais amor por você mesmo.